quarta-feira, 21 de maio de 2008

Notas introdutórias às cartas dos Mahatmas - A.P. Sinnett

Virginia Hanson

(Teósofa norte-americana que se especializou no estudo das Cartas dos Mahatmas)

(Extraído no livro Cartas dos Mahatmas para A. P. Sinnett, Vol. I, publicado em 2001 pela Editora Teosófica)

Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett é considerada uma das obras mais difíceis da literatura teosófica. Ela aborda muitas situações complexas e contém muitos conceitos profundos, que se tornam mais obscuros porque, na época em que elas foram escritas, não havia sido desenvolvida uma nomenclatura por meio da qual os Mahatmas pudessem comunicar a sua filosofia - profundamente oculta - a pessoas de idiomas ocidentais. Apesar disso, a obra tem um poder e uma percepção interna tremendos, e reflete o drama humano da aspiração, do êxito e do fracasso. Ela conta uma história ocorrida no tempo, mas a sua mensagem é eterna, quer a consideremos como narrativa, como filosofia oculta ou como revelação.

O que é um Mahatma?

Em um artigo de H.P. Blavatsky intitulado Mahatmas e Chelas (The Theosophist, julho de 1884), ela nos dá o significado do termo:

“Um Mahatma é um personagem que, por meio de educação e treinamento especiais, desenvolveu aquelas faculdades superiores e atingiu aquele conhecimento espiritual que a humanidade comum adquirirá depois de passar por séries inumeráveis de encarnações durante o processo de evolução cósmica, desde que, naturalmente, neste meio tempo, ela não vá contra os propósitos da Natureza...”.

Ela prossegue com uma discussão sobre o que é que encarna e de que modo este processo é usado como um fator da evolução, resultando na conquista do Adeptado. Em uma carta escrita para um amigo em 1º de julho de 1890, H.P.B. disse outras coisas interessantes sobre os Mahatmas:

“Eles são membros de uma Fraternidade oculta [mas] de nenhuma escola indiana em particular. Esta Fraternidade”, acrescentou ela, “não se originou no Tibet, mas a maioria dos seus membros e alguns dos mais elevados entre eles estão e vivem constantemente no Tibet”.

Depois, falando dos Mahatmas, ela diz:

“São homens vivos, não ‘espíritos’, nem mesmo Nirmanakayas . . . (1). O seu conhecimento e erudição são imensos, e a santidade da sua vida pessoal é maior ainda - entretanto, eles são homens mortais e nenhum deles tem a idade de 1.000 anos, ao contrário do que algumas pessoas imaginam.”

Em uma conversa em 1887 com o escritor Charles Johnston (marido da sobrinha de H.P.B., Vera), quando ele perguntou a H.P.B. sobre a idade do Mestre dela (o Mahatma Morya), ela respondeu:

“Meu querido, não posso dizer exatamente, porque não sei. Mas conto-lhe o seguinte. Eu o encontrei pela primeira vez quando tinha vinte anos. Ele era um homem no auge de sua força, na época. Agora, sou uma mulher velha, mas ele não parece nem um dia mais velho. Ele ainda está no auge da sua força. Isto é tudo o que posso dizer. Tire suas próprias conclusões”.

Quando o sr. Johnston insistiu e perguntou se os Mahatmas haviam descoberto o elixir da vida, ela respondeu seriamente: “Isso não é um mito. É apenas o véu que esconde um processo oculto real, o afastamento da velhice e da dissolução durante períodos que pareceriam fabulosos, e por isso não os mencionarei. O segredo é o seguinte: para todo ser humano há um climatério, quando ele deve se aproximar da morte. Se ele desperdiçou as suas forças vitais, não há escapatória, mas se ele viveu de acordo com a lei, pode atravessar esse período e assim continuar no mesmo corpo quase indefinidamente” (2).

Como as Cartas vieram a ser escritas?

Os autores das cartas são os Mahatmas Koot Hoomi e Morya, geralmente designados simplesmente pelas suas iniciais.

O Mahatma K.H. era um brâmane de Cachemira, mas na época em que nos deparamos com ele nas cartas, ele tinha relações estreitas com a corrente Guelupa ou “gorro amarelo” do Budismo tibetano. Ele se refere a si próprio nas cartas como um “morador de cavernas de aquém e além dos Himalaias”. H.P.B. diz em Ísis Sem Véu que a doutrina de Aquém dos Himalaias é uma doutrina ariana muito antiga, às vezes chamada bramânica, mas que na verdade nada tem a ver com o bramanismo tal como nós o entendemos agora. A doutrina de Além dos Himalaias é uma doutrina esotérica tibetana, o Budismo puro ou “antigo”. Ambas doutrinas, de Aquém e Além dos Himalaias, vêm originalmente de uma só fonte - a Religião de Sabedoria universal.

O nome “Koot Hoomi” é um nome místico que ele usou em relação à correspondência com A.P. Sinnett. Ele falava e escrevia em francês e inglês fluentemente.

Há afirmações na literatura teosófica no sentido de que o Mahatma K.H. estudou na Europa. Ele estava familiarizado com os hábitos e o modo de pensar dos europeus. Era muito erudito e, às vezes, escrevia passagens de grande beleza literária.

O Mahatma Morya era um príncipe rajput - os rajputs formavam a casta governante do norte da Índia na época. Ele era “um gigante, de quase dois metros de altura, e de um porte magnífico; um tipo esplêndido de beleza masculina”. (3)

É bastante conhecido o episódio da fundação da Sociedade Teosófica em Nova Iorque, em 1875. Em 1879, os dois principais fundadores da Sociedade, H.P. Blavatsky e o coronel Henry Steel Olcott, transferiram a sede da Sociedade para Bombaim, na Índia e, em 1882, para Adyar, Madras (atual Chennai), no sul da Índia, onde permanece.

Morava na Índia, na época, um inglês culto e muito refinado, chamado Alfred Percy Sinnett. Ele era editor de The Pioneer, o principal jornal inglês, publicado em Allahabad. Ele se interessou pela filosofia exposta pelos dois teosofistas e estava curioso a respeito dos acontecimentos notáveis que pareciam sempre ocorrer na presença de H. P. B.

Em 25 de fevereiro de 1879, nove dias após a chegada dos fundadores a Bombaim, Sinnett escreveu ao coronel Olcott expressando o desejo de conhecer H.P.B. e ele, e afirmando que estava disposto a publicar quaisquer fatos interessantes a respeito da missão deles na Índia.

Em 27 de fevereiro de 1879, Olcott respondeu esta carta. Começou assim o que Olcott chamaria de “um vínculo produtivo e uma amizade agradável”. Os fundadores foram convidados a visitar os Sinnett em Allahabad, o que ocorreu em dezembro de 1879. Nessa visita os Sinnett filiaram-se à Sociedade Teosófica, e os fundadores encontraram outros visitantes que iriam cumprir um papel na vida da Sociedade: A.O. Hume e sua esposa Moggy, de Simla, e a sra. Alice Gordon, esposa do tenente-coronel W. Gordon, de Calcutá.

No ano seguinte, os fundadores visitaram os Sinnett na sua residência de verão, em Simla, naquela época a capital de verão da Índia. Lá, eles ficaram conhecendo melhor o casal Hume e sua filha, Marie Jane (usualmente chamada de Minnie). O passatempo favorito de Hume era o estudo de pássaros, e ele mantinha um museu ornitológico em sua espaçosa casa, que chamava de Castelo Rothney, na colina Jakko, em Simla; também publicava uma revista sobre ornitologia, Stray Feathers. Profissionalmente, ele era, havia algum tempo, membro influente do governo.

Foi em Simla que aconteceram os fatos que resultaram nas cartas publicadas na obra Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett. H.P.B. realizava alguns fenômenos surpreendentes e os atribuía aos Mahatmas, com quem ela estava em contato psíquico mais ou menos constante. Sinnett estava convencido da veracidade desses fenômenos, e em seu livro O Mundo Oculto fez um vasto trabalho para comprovar a sua autenticidade.

Ele tinha também uma mentalidade prática e científica, e desejava saber mais a respeito das leis que governavam essas manifestações. Queria, especificamente, saber mais sobre aqueles seres poderosos que H. P. B. chamava de “Mestres” e que, segundo ela, eram os responsáveis pelos fenômenos. Ele lhe perguntou se seria possível entrar em contato com eles e receber instruções.

H.P.B. disse-lhe que não era muito provável, mas que tentaria. De início, ela consultou o seu Mestre, o Mahatma Morya, com quem ela estava estreitamente ligada através do treinamento oculto a que se submetera anteriormente no Tibet, mas ele se recusou categoricamente a comprometer-se com essa tarefa. (Mais tarde, entretanto, chegou a assumir a correspondência durante alguns meses, devido a circunstâncias muito especiais.).

Aparentemente, H.P.B. tentou o mesmo com vários outros, sem sucesso. Finalmente, o Mahatma Koot Hoomi concordou em manter uma correspondência limitada com Sinnett.

O sr. Sinnett endereçou uma carta “ao Irmão Desconhecido” e entregou-a a H.P.B. para que a transmitisse. Na verdade, ele estava tão ansioso por defender o seu ponto de vista de modo convincente que escreveu uma segunda carta antes de receber uma resposta à primeira. Seguiu-se, então, uma série de cartas notáveis, e a correspondência continuou por vários anos, tendo como um dos seus vários resultados de longo prazo a publicação das cartas em forma de livro.

PREFÁCIO À EDIÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA

Carlos Cardoso Aveline

(Membro da Sociedade Teosófica pela Loja Brasília, de Brasília-DF

e Coordenador da Edição em Língua Portuguesa)

Diversas religiões da humanidade preservam uma tradição segundo a qual uma

coletividade de grandes sábios inspira e conduz, silenciosamente, a nossa humanidade no caminho que leva à paz e à sabedoria. O taoísmo menciona estes sábios como Imortais, e o hinduísmo usa o termo Rishis. Para o budismo, eles são Arhats. Outros os chamam de Mahatmas, raja iogues, mestres de sabedoria, Adeptos ou, simplesmente, Iniciados. Segundo a filosofia esotérica, estes seres atingiram o Nirvana e libertaram-se inteiramente do estágio atual do reino humano, mas permanecem ligados à humanidade por laços de compaixão e solidariedade.

A coletividade destes sábios, que tem ramificações em vários continentes, aprovou e promoveu, em 1875, a criação da Sociedade Teosófica. Assim surgiu um núcleo da fraternidade universal sem distinção de classe, nacionalidade, raça, casta, credo, sexo ou cor. Dois destes Mahatmas participaram de modo mais específico e direto do esforço teosófico. A presente edição reúne a correspondência entre estes instrutores e Alfred Sinnett, um dos principais líderes teosóficos dos primeiros tempos.

Do ponto de vista teosófico, as Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett são textos de importância incomparável na literatura de todos os tempos. Pela primeira vez, sábios que completaram a etapa atual da evolução humana colocaram seus ensinamentos no papel, abrindo, durante alguns anos, uma exceção à regra milenar pela qual grandes Adeptos e instrutores nada escrevem. São, pois, documentos de um valor inestimável. Pouco a pouco, à medida que passa o tempo, passam a ser conhecidos e discutidos mais abertamente entre os estudantes da filosofia esotérica em todo o mundo.

Ao mesmo tempo, o estudo das cartas apresenta dificuldades e desafios significativos. Por um lado, elas foram escritas em situações históricas e humanas muito específicas, em grande parte desconhecidas do cidadão do século 21. Por outro lado, ao escreverem, os Mahatmas não tiveram em vista a publicação das suas cartas. Não se preocuparam com a forma externa, nem com as normas de cortesia mundana, mas, ao contrário, usaram de total franqueza. Além disso, a verdade é que o ensinamento vindo diretamente deles contraria de modo radical muitas opiniões convencionais a que estamos acostumados em diversos assuntos. Outro fator é que a dificuldade natural dos temas abordados torna necessário que o estudante use a intuição e a capacidade de conviver com o desconhecido. Do ponto de vista da redação das Cartas, algumas frases, longas e que abordam temas complexos, não são fáceis de entender. Para muitos estudantes, no entanto, os desafios tornam o estudo mais estimulante.

Duas dificuldades para a compreensão das Cartas dos Mahatmas devem ser analisadas com mais detalhe, do ponto de vista do leitor de língua portuguesa. A primeira delas diz respeito às críticas ao cristianismo.

As cartas dos Mahatmas devem ser vistas como documentos históricos e em seu contexto. As críticas dos Mahatmas se referem ao aspecto dogmático, imperial e autoritário do cristianismo. Não ao seu aspecto místico e de sabedoria. Os teosofistas, com sua perspectiva ecumênica e inter-religiosa e sua proposta de liberdade de pensamento, eram uma ameaça para os dogmas de várias religiões. Assim, missionários cristãos tentaram abafar e mais tarde atacaram frontalmente a Sociedade Teosófica. É neste contexto que surgem as críticas mais francas e duras dos Mahatmas ao cristianismo dogmático.

Para que se tenha uma idéia das mudanças de mentalidade ocorridas desde o século 19, basta lembrar que os movimentos socialistas, na época, eram radicalmente críticos ao cristianismo: afirmavam que “a religião é o ópio do povo”. Mas, desde então, a religião iniciou uma nova caminhada. A obra de autores cristãos de vanguarda como Teillard de Chardin, Anthony de Mello, Leonardo Boff e Madre Teresa de Calcutá, para citar apenas quatro nomes, tem aspectos essenciais em comum com a Teosofia. Hoje existe a teologia da libertação. Até certo ponto, as críticas dos Mahatmas ao Vaticano anteciparam em um século o livro “Igreja, Carisma e Poder”, do conhecido teólogo brasileiro Leonardo Boff. A crise atual da igreja dogmática é um fato reconhecido. A igreja progressista deseja mudanças, e a aproximação entre movimentos sociais e igrejas cristãs é notável em muitas partes do mundo. Em vários sentidos, portanto, houve transformações significativas no cristianismo a partir da segunda metade do século 20.

Os Mahatmas são imparciais em relação a todas as religiões. Não criticam só o cristianismo, mas todas elas, no que possuem de supersticioso e ilusório. Isto fica claro, por exemplo, nas Cartas 88 e 90. Especificamente, eles não poupam o hinduísmo, a principal religião da Índia, conforme se verifica ao ler a Carta 30. Na verdade, os Mahatmas são tão imparciais que, durante a crise da Loja teosófica de Londres, em 1883, defenderam a minoria que havia adotado como prioridade o cristianismo esotérico, em detrimento da maioria dos membros da Loja que, liderada por Sinnett, seguia os ensinamentos esotéricos transmitidos por eles próprios. A liberdade de pensamento e a autonomia do aprendiz são partes centrais e indispensáveis do método de ensino dos Mahatmas. Nas Cartas, fica claro que eles combatem o dogmatismo com igual vigor dentro e fora do movimento teosófico.

Vale a pena mencionar, neste contexto, as duras críticas feitas nas Cartas aos jesuítas. Até hoje, no dicionário Aurélio da língua portuguesa, o significado da palavra “jesuíta” é definido, entre outras acepções, como “sujeito dissimulado, astucioso, fingido, hipócrita”. Uma das acepções do adjetivo “jesuítico” no mesmo dicionário é, também, “dissimulado, astucioso”. Portanto, os Mahatmas não estavam sozinhos ao descrever como desonestos os métodos da hierarquia católica do século 19. Isto, porém, não nega a contribuição cultural positiva que muitos jesuítas deram, em diversos casos, à cultura ocidental. E é claro que os jesuítas mudaram muito desde então. Hoje, este e outros setores do cristianismo têm um pensamento moderno, aberto, democrático e ecumênico diante das grandes questões éticas e sociais do nosso tempo.

A segunda dificuldade a ser analisada mais especialmente diz respeito às críticas dos Mahatmas ao movimento espírita. Aqui, também, é importante ter uma perspectiva histórica dos fatos. A intenção inicial dos fundadores do movimento teosófico foi trabalhar em conjunto e em harmonia com o movimento espírita. Depois de algum tempo, ficou claro que isso não seria possível na época. Durante algumas décadas, as relações foram tensas, e é neste contexto que foram escritas as cartas a seguir. Mas a partir da segunda metade do século 20, e especialmente no Brasil, a aproximação entre os dois movimentos tem sido visível. Hoje é grande o número de espíritas que são teosofistas, e de teosofistas que são simpáticos a muitos aspectos do espiritismo. A principal crítica teosófica ao espiritismo se refere à mediunidade, que os Mahatmas condenam. Eles explicam detalhadamente os motivos nas cartas a seguir. O espiritismo tem evoluído muito e, no futuro, a meta inicial de franca simpatia e cooperação entre teosofistas e espíritas será cada vez mais fácil, do mesmo modo como são fraternos os laços que ligam o movimento teosófico a budistas, jainistas, hinduístas, judeus, muçulmanos, e a seguidores de diversas filosofias e religiões, ou de nenhuma delas. Buscar a verdade onde ela esteja, com bom senso e equilíbrio, é uma idéia central para o movimento teosófico.

Deve-se levar em conta que as cartas eram documentos absolutamente confidenciais, e que os Mahatmas deixaram claro que jamais aprovariam a sua publicação na íntegra. A publicação acabou ocorrendo longo tempo depois do término da correspondência e do afastamento deles em relação às atividades visíveis da Sociedade Teosófica. No início da década de 1920, o editor A.Trevor Barker julgou que, para evitar mal-entendidos, era necessário dar a conhecer a todos, com total transparência, os pontos de vista expressados diretamente pelos Mahatmas em relação à vida, às religiões, ao cristianismo, à filosofia esotérica e ao aprendizado espiritual.

O movimento teosófico não tem dogmas. Seu lema é “não há religião superior à verdade”. Assim, estas Cartas dos Mahatmas não são objetos de fé cega para ninguém. Porém, a importância do seu conteúdo parece inegável no mundo todo para muitos estudantes da sabedoria divina, afiliados ou não a instituições filosóficas ou religiosas. Por isso, desde a sua publicação em Londres em dezembro de 1923, as edições das Cartas dos Mahatmas se multiplicam em diferentes países e idiomas, assim como sempre surgem novos livros com estudos e pesquisas sobre elas. O conteúdo essencial das cartas dos Mahatmas não só permanece atual e válido para o dia de hoje, mas é um instrumento insubstituível para compreender o futuro.

É conveniente ter em conta, ao ler as cartas, que nelas os Mahatmas renunciam à consciência nirvânica para discutir detalhes, comentando situações de intenso conflito humano e espiritual, e não demonstram qualquer preocupação com a manutenção de uma imagem de sábios. O que escrevem é sempre verdadeiro, mas só mostra uma parte da verdade multidimensional e da visão completa que eles possuem da realidade, e que seria completamente impossível colocar em palavras. Sua franqueza pode parecer dura, assim como parecem demasiado severos os métodos dos mestres do zen-budismo, por exemplo. Eles tampouco se ajustam aos nossos padrões ocidentais de cortesia, freqüentemente companhados de falsidade e hipocrisia. O caráter confidencial das cartas protegia o seu estilo, que poderia parecer duro para pessoas estranhas.

Por outro lado, o leitor deve levar em conta que o caráter externamente fragmentário do ensinamento faz parte do esquema pedagógico dos Mahatmas. Espera-se que o aprendiz realize com perseverança e autonomia a tarefa de ir reunindo aqui e ali elementos aparentemente esparsos do grande esquema evolutivo da vida, segundo a filosofia esotérica clássica. A intuição despertará no decorrer deste processo. Como escreveu Alfred Sinnett em O Mundo Oculto (p.227), “estas revelações dispersas (...) foram quebradas e espalhadas de propósito, de modo que só fosse possível chegar a uma convicção completa sobre o Adeptado depois de uma certa quantidade de trabalho empregado na tarefa de reunir as provas dispersas”.

Há duas maneiras principais de ler as Cartas. A primeira delas é abordar o texto em seu contexto histórico e tentar compreender as circunstâncias específicas em que ele foi escrito. A segunda maneira é ler o texto como se fosse diretamente dirigido a cada um de nós. Neste caso, aplicamos às nossas vidas tudo o que, de algum modo, faz sentido para nós, e deixamos de lado o que ignoramos dos temas abordados, marcando e separando as frases profundas e as verdades universais que aparecem a cada instante no texto, misturadas a discussões de fatos de curto prazo do movimento teosófico da década de 1880. Uma das perguntas que podemos fazer-nos ao ler o livro é como agiríamos, concretamente, nas situações descritas. Outra pergunta é: qual o significado deste ensinamento para nossa vida real, no momento presente? O significado pode ser imenso, renovador, revolucionário.

Queremos agradecer o trabalho voluntário e altruísta de muitas pessoas que ajudaram em uma ou outra etapa da produção destes dois volumes. Entre elas estão Radha Burnier, Christina Zubelli, Joy Mills, Dilza Braga Rosa, Maria Elizabeth de Oliveira, Alcyr Anísio Ferreira, Valéria Marques de Oliveira, Wanisa Costa Lins, Edilson de Almeida Pedrosa, Ivana Campelo Gonçalves, e outros que leram e comentaram diversas cartas durante o processo de tradução e revisão. Ângela Maria Hartmann prestou uma ajuda de grande valor ao empreendimento, revisando os textos e colaborando ativamente do início ao fim do trabalho.


Um exemplo da letra e da assinatura de “M.”, que aparece em todas as cartas escritas com tinta vermelha ou lápis vermelho.

Um exemplo da letra de “K.H.”, precipitada em cor azul, sob uma nota de Damodar K.Mavalankar. Amaior parte dascartas de “K.H.”está scrita com tinta azul ou por lápis azul.

I - Fragmento encontrado no envelope da carta nº 96 (ML-92). II, III, IV - reproduções das assinaturas das cartas nº 1 (ML-1),nº 5 (ML-4), e nº 59 (ML-132), respectivamente.

Notas

(1) Aquele que não mais encarna, mas que decidiu renunciar ao Nirvana por solidariedade e para ajudar os seres menos evoluídos. (N. ed. bras.) Voltar.

(2) Collected Writings, Vol.VIII, p. 392. Voltar.

(3) Collected Writings. Voltar.



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